"Não posso suportar mais! As tarefas são como montanhas que já não posso mover. De manhã cedo tenho de despertar-te, arrumar a casa, limpar os tapetes, cuidar das crianças, fazer compras no bazar, preparar teu prato de arroz favorito para a janta e ainda fazer-te agrados durante a noite." Isso foi o que uma esposa disse ao marido.
Mastigando uma coxa de frango, ele disse simplesmente: "Que há de tão mal nisso tudo? Todas as mulheres fazem o que tu fazes. Tu levas a melhor. Enquanto eu suporto todo tipo de responsabilidades, tu apenas ficas por aí sentada dentro de casa."
"Ó," reclamou a esposa, "se apenas me pudesses auxiliar um pouco!" Movido pela generosidade, o homem finalmente concordou com a seguinte sugestão: sua esposa responsabilizar-se-ia por tudo o que tinha de ser feito dentro da casa, ao passo que ele ficaria encarregado de todas as tarefas desenvolvidas fora do lar. Essa divisão de tarefas permitiu ao casal viver junto em contentamento durante um longo tempo.
Um dia o marido foi fazer compras com amigos e aproveitou para sentar-se num café, onde ficou satisfeito da vida fumando narguilé. Repentinamente, um vizinho entrou correndo e gritou cheio de nervosismo: "Corre! Tua casa está pegando fogo!".
O homem continuou fumando o narguilé e disse com espantosa indiferença: "Queira, por favor, fazer a gentileza de avisar minha mulher, pois ela tem a última palavra em tudo o que acontece dentro de casa. Eu sou apenas responsável pelas tarefas externas."
Extraído de: O Mercador e o Papagaio
Histórias orientais como ferramentas em psicoterapia
Nossrat Peseschkian - Papirus Editora