Zazá era uma cadela especial. Muito brava, rosnava sempre que algum estranho se aproximava. Tinha um bonito porte, e segundo Dona Maria, sogra do Tonhão, era mestiça com pastor alemão. Só sei dizer que ela impunha respeito.
Seus donos moravam numa casa na periferia de Grenita, uma grande cidade do sul do país. A vida era bem tranquila, mas nos últimos tempos, começaram a proliferar os assaltos na região. Mais parecia que os ladrões haviam migrado da capital, São Carlos de Boni, para lá.
A casa do Tonhão era totalmente murada, o que dava à sua família uma relativa segurança. Além disso, Zazá tinha sua missão de guardiã.
Numa fria madrugada de inverno, na calada da noite, Raposão, famoso assaltante da capital, aproximou-se daquela propriedade, e começou a sondar o local. Pela sua experiência, roubar aquela residência ia ser moleza, pois faltavam grades de segurança, alarmes e cacos de vidro no muro.
"Vai ser uma 'barbada'. Qualquer ladrãozinho 'pé de chinelo' faz o serviço.", pensou o larápio.
Estava tão fácil que Raposão foi até displicente. Com a agilidade de um felino pulou o muro, e mal havia aterrissado no quintal da casa, foi surpreendido com uma dolorosa mordida na perna direita. Raposão conseguiu, milagrosamente, desvencilhar-se dos dentes da Zazá, subindo apressadamente na goiabeira, ao lado do jardim.
A cadela, então, começou a latir, e seu latido podia ser ouvido a centenas de metros dali.
Dentro da casa, Tonhão roncava pesadamente, mergulhado em sono profundo. Mas o latido da cachorra, mais forte que o seu próprio ronco, começou a incomodá-lo, até que ele acordou, irritado. Ainda sonado, pensava, contrariado: " O que será que está havendo? Porque ela está fazendo essa barulheira?"
Completamente transtornado, irado mesmo, sentia o som emitido pela cadela latejando em sua cabeça.
O ladrão, por sua vez, assustado em cima da árvore, tentava inutilmente alcançar o muro, andando pelos galhos, e quanto mais ele se mexia mais a Zazá latia.
Tonhão, numa explosão de ódio, levantou-se, apanhou seu revólver em cima da cômoda, foi até o quintal e matou a cachorra.
Do livro: A Magia da Linha do Tempo
Cid Paroni Filho
Ed. Lúmen - Pág. 25/6