"Se ninguém disser qualquer coisa para me entreter", bradou um rei tirânico e já maltratado pela idade, "cortarei a cabeça de todos os cortesãos."
Imediatamente, Nasrudin deu um passo à frente.
"Majestade, não me corte a cabeça. Farei alguma coisa."
"E o que podes fazer?"
"Eu posso... ensinar um asno a ler e escrever!"
Disse o rei:
"É melhor fazê-lo, ou te esfolarei vivo".
"Vou fazê-lo", disse Nasrudin, "mas isto me tomará dez anos!"
"Muito bem", disse o rei, "concedo-te os dez anos."
Assim que o rei se retirou, Nasrudin foi cercado pelos nobres da corte.
"Mullá", disseram, "é verdade mesmo que você pode ensinar um asno a ler e escrever?"
"Não", respondeu Nasrudin.
"Então", disse o mais sábio dos cortesãos, "você acaba de inaugurar uma década de tensão e ansiedade, pois certamente será condenado à morte. Oh, que loucura! Preferir dez anos de sofrimento e contemplação da morte ao machado do carrasco, que corta a cabeça num átimo..."
"Você não levou em conta apenas um pequeno detalhe", disse o Mullá. "O rei tem setenta e cinco anos e eu, oitenta. Muito antes que o tempo se esgote, outros elementos terão entrado na história..."
Do livro: Histórias de Nasrudin - Editora Dervish