– Vim falhar-lhe sobre o seu trabalho – disse o Anjo-que-cuida-de-tudo. – Não está satisfatório.
– É mesmo? – disse o homem. – Não sei por quê. Talvez você possa me explicar.
– E vou! – disse o anjo. – Para começar, o trabalho está sujo.
– Eu nasci descuidado – disse o homem. – É um defeito de família que sempre detestei.
– E também está mal ajustado – disse o anjo. – As partes não estão se encaixando.
– Nunca tive jeito para as proporções – disse o homem. – Admito que é uma infelicidade.
– Essa coisa parece um grande remendo! – disse o anjo. – Você não dedicou nem o cérebro nem o coração a esse trabalho; o resultado é esse ridículo fracasso! O que é que você sugere a respeito?
– Pensei que você fosse mais compreensivo – disse o homem. – Minhas falhas já nasceram comigo. Lamento que você não me aprove, mas fui feito assim mesmo. Entende?
– Entendo, sim! – disse o anjo.
Esticou as fortes e alvas mãos, agarrou o homem pelo colarinho e mergulhou-o da cabeça aos pés no fosso.
– Mas o que significa isso? – gritou o homem, quando conseguiu voltar, sem fôlego e encharcado. – Nunca imaginei tal comportamento! Viu o que me fez? Estragou minhas roupas e ainda por cima quase me afogou!
– Sinto muito – disse o anjo. – Eu também fui feito assim mesmo!
Do livro: O Livro das virtudes