Dois fazendeiros caminhavam à procura do templo da felicidade em alguma gruta, em algum lugar, onde estaria guardado o livro do destino, no qual poderiam reescrever seus futuros.
Lançaram-se à aventura na expectativa de que a simples caminhada já seria melhor que a realidade em que todos viviam.
Seus empreendimentos estavam falidos pelo longo período de estiagem, dívidas acumuladas, recessão e falta de crédito.
As motivações dos caminhantes eram, no entanto, diferentes. Enquanto um deles vivia o sonho da descoberta, esperando o livro mágico para mudar sua sorte, o outro, cheio de frustração e ressentimento, queria a desforra sobre seus empedernidos credores.
Depois de muitas peripécias e contrariedades, encontraram finalmente a caverna milagrosa, e lá estava o livro da vida. Havia uma limitação: cada pessoa teria apenas um minuto para registrar o que quisesse, findo o qual, o livro se fecharia definitivamente.
O primeiro empresário verificou ao chegar ao livro que ele estava aberto em sua página e, sem querer ver o que estava escrito, foi acrescentando os seus pedidos: queria sua fazenda reconstruída, os prados verdejantes, as vaquinhas revigoradas, dinheiro, muito dinheiro e, vencido o prazo, sob forte impacto o livro fechou-se.
O segundo, aflito em descarregar suas mágoas, desejou que seus desafetos e credores fossem sacrificados, que seu vizinho, com o qual se indispusera por questões de limites de propriedade, perdesse tudo, até que seu tempo se esgotou, sem oportunidade para qualquer conquista positiva.
Voltaram ansiosos pelos resultados. O revoltado constatou o quadro dantesco que havia arquitetado: o banco e os comerciantes faliram, o agiota que havia protestado seus títulos suicidou-se, seu vizinho entregou a propriedade para salvar as dívidas, sua fazenda estava uma desolação. Conclusão: além de não melhorar sua situação, piorou tudo ainda mais.
O segundo empresário, percebendo que os pedidos do colega foram atendidos, correu para ver o estado de suas posses, maravilhando-se com os resultados: vaquinhas gordas, prados verdejantes e a velha casa transformada em esplendorosa mansão.
A emoção foi demais, não resistiu a um colapso fulminante. Escreveu tudo o que queria, mas esqueceu-se do essencial: a saúde para poder usufruir e administrar todos os seus bens.