Robert W. Fletcher
As metáforas terapêuticas podem ser, muitas vezes, usadas juntas com o tratamento médico convencional para acelerar o processo de cura. O que segue é uma metáfora que eu, algumas vezes, usei com muito sucesso. A história se inspirou numa experiência que eu tive quando rapaz, num navio que se dirigia para o sul do Pacífico, durante a Guerra da Coreia.
Muitos anos atrás, um dos meus assistentes veio à minha sala, por volta da 1:30 da tarde, muito agitado. Parecendo muito perturbado, ele pediu para sair mais cedo. Sua irmã de 21 anos tinha se envolvido num acidente de carro e tinha sido levada para o hospital numa condição crítica. Ela teve lacerações na pele, duas costelas quebradas, um pulmão perfurado e consideráveis contusões. Ele sabia que eu havia assistido, no último fim de semana, ao seminário sobre Metáforas Terapêuticas com Tom Best e me perguntou se não existia alguma coisa que eu pudesse fazer para ajudá-lo.
Eu disse, "Me fale sobre a sua irmã." Ele disse que ela trabalhava como modelo numa loja de roupas e que adorava esquiar e velejar. Eu criei uma metáfora (a seguir) que nós rapidamente anotamos numa folha. Ele foi para o hospital e lhe contou a metáfora enquanto ela estava deitada na sala de emergência. Naquele momento ela estava apenas semiconsciente.
Uma vez, eu fiz uma viagem num grande navio de São Francisco para o Japão, via Honolulu no Havaí. Três dias depois da partida, em pleno oceano, o barco se deparou com uma tempestade que logo se transformou num tremendo tufão. O capitão, a princípio, pensou que ele podia enfrentar a tempestade, mas logo descobriu que o melhor que podia fazer era tentar escapar dela. Quando tentou desviar o navio da tempestade, o navio foi atingido por uma parede de água que quase o fez virar. A parte de trás do navio foi erguida para fora da água e desceu com tanta força que entortou o eixo de aço inoxidável da hélice. A sacudida na carga provocou um furo na lateral do navio, num dos porões de carga, inundando o compartimento e enfraquecendo o casco em diversos lugares.
O Capitão que pensava rápido, imediatamente convocou uma reunião de todos os chefes das equipes (inclusive, mas não limitado ao Chefe Engenheiro, Chefe Encanador e das Caldeiras, Chefe da Manutenção, Chefe da Limpeza, Chefe da Nutrição e Saúde, bem como do seu Navegador e do responsável pelo Radar). Ele falou a todos sobre o perigo imediato que o navio corria e sobre a força da tempestade. Então, deu as seguintes instruções:
"Chefe Engenheiro, faça a sua equipe parar o motor #1 ou todo o navio vai vibrar. Verifique e aperte todos os mancais, verifique e lubrifique todas as graxeiras, e tenha certeza de que todas as partes móveis sejam mantidas lubrificadas durante a tempestade. Aperte todas as conexões, e fique atento para as tensões, superaquecimentos e defeitos. Estabeleça vigia 24 horas por dia em todos os sistemas".
"Chefe Encanador e das Caldeiras, faça a sua equipe verificar todas as válvulas, apertar todas as conexões, trocar qualquer cano rachado ou frouxo, e estabeleça um turno de 24 horas para vigiar todas os indicadores de pressão e válvulas. Mantenha todas as pressões dentro dos limites indicados".
"Chefe da Manutenção, estabeleça uma equipe especial para reparos. Vá até o compartimento invadido e com o equipamento de mergulho solde o buraco no casco. Use qualquer material ou equipamento que você necessitar da sala de suprimentos para reforçar a estrutura e tornar o navio seguro de novo. Depois bombeie toda a água do compartimento inundado. Designe equipes de prontidão para ter certeza de que os reparos sejam mantidos durante a tempestade".
"Chefe da Limpeza, envie uma equipe para o porão atingido tão logo ele esteja seguro e limpe os entulhos. Limpe com muita água e deixe tudo seco. Acelere a limpeza normal de todos os compartimentos, esvaziando, diversas vezes ao dia, os contêineres de lixo dos passageiros. Tenha certeza de que nada é deixado no navio que possa contaminar ou fazer os passageiros ficarem doentes".
"Chefe da Nutrição e Saúde, mude a dieta, tanto da tripulação como dos passageiros, para uma que seja mais condizente com a energia necessária para manter a saúde durante o restante da tempestade. Nós não podemos deixar os passageiros ficarem doentes e, evidente, a tripulação deve ser mantida com boa saúde".
"Chefe de Navegação, assinale um novo curso que irá nos afastar dessa tempestade tão rápido quanto possível com os menores danos possíveis".
"Chefe do Radar, faça uma varredura no oceano e na linha costeira a procura de rochas, outros navios ou qualquer outra coisa que possa se intrometer no caminho do navio e retardar a sua chegada a um porto seguro".
Como resultado da decisão rápida do Capitão e das ações que foram tomadas pelos chefes das equipes, o navio foi capaz de se afastar rapidamente da tempestade, fazer os reparos finais no porto de Honolulu e continuar a sua jornada para o Japão. Todos os passageiros estavam seguros e foram capazes não apenas de sobreviver a essa aventura, mas também se divertiram bastante no resto da viagem.
O acidente ocorreu na tarde de terça-feira. Na manhã seguinte, o buraco no pulmão dela estava completamente fechado. Eles lhe deram alta do hospital na quinta-feira e, na segunda-feira seguinte, ela já estava de volta ao seu trabalho de modelo.
Eu contei essa história para outra mulher que estava indo para uma cirurgia de remoção de um cálculo biliar. Ela foi operada na quarta-feira (com uma incisão de 20 centímetros abaixo da caixa torácica) e retornou ao trabalho na segunda-feira seguinte.
Eu também usei essa história com uma mulher com pouco mais de 50 anos que precisava de uma histerectomia. O médico avisou que ela devia considerar um período de recuperação de 6 semanas a 6 meses. Quando, após 3 semanas, ela retornou para um check-up, o médico com grande prazer lhe anunciou que ela estava completamente curada e que podia retornar as suas atividades normais. Como antes da operação ela estava planejando um acampamento no alto das Montanhas Rochosas, andando a cavalo, ela perguntou quanto tempo tinha que esperar antes de fazer essa viagem. Ele lhe respondeu "A qualquer hora que você quiser. Enquanto você se sentir bem, ótimo". Ela me comentou, mais tarde, que acompanhou o marido até em cima das montanhas numa viagem de dois dias sem nenhum incômodo causado pela cirurgia.
O último exemplo, usando essa metáfora, é a de um homem de cerca de 60 anos que estava indo para uma cirurgia de implante de um bypass quádruplo no coração. De novo, ele foi liberado mais cedo e se recuperou muito mais rápido do que o esperado.
Eu tenho usado variações dessa história em todas as espécies de doenças e, até agora, tenho tido curas aceleradas em todos os casos.
Durante a demonstração de um programa de alergia interna/externa em 5 de janeiro de 1989 no workshop da Western States Training Association para Practitioners, um dos estudantes perguntou "Por que você não pode fazer o processo de reversão de câncer?" Isso me fez pensar. O resultado é a metáfora que segue.
Num país, não muito longe daqui, vivia um grande general. Sua tarefa era proteger o país e assegurar que todos os habitantes vivessem em paz e harmonia. Para fazer isso, ele mantinha um exército em prontidão e um exército de reservistas, o qual podia ser chamado em condições especiais. Ele também mantinha um serviço secreto cujo trabalho era detectar qualquer espião ou invasores externos. Todos os membros do exército, os reservistas e os do serviço secreto foram cuidadosamente treinados para tarefas específicas designadas para cada grupo. Os membros do exército e do serviço secreto eram soldados em tempo integral, mas os reservistas eram civis que ocupavam, na maior parte do tempo, posições na comunidade e que foram treinados para atuar na guerra apenas em casos de emergência.
Por muitos anos, esse país viveu em paz e harmonia. Os habitantes de cada vila e cidade, bem como aqueles das grandes cidades, trabalhavam e divertiam-se juntos e viviam a vida na sua plenitude. Todos, isso é, exceto alguns membros do exército e do serviço secreto. Como eram treinados para guerra, eles começaram a ficar descontentes por não fazerem nada, apenas aguardando e não tendo nenhum lugar para usar suas altamente treinadas habilidades de guerra. Alguns deles decidiram ir para o interior e provocar alguma emoção.
Os desertores do exército partiram para uma pequena parte da zona rural e começaram a atormentar os habitantes locais. Os habitantes não tinham experiência com guerra, e assim se tornaram vítimas fáceis dos habilidosos desertores. Outros membros do exército, vendo a agitação, se evadiram e se juntaram ao esquema. Eles se vestiram com roupas iguais aos dos habitantes locais e se infiltraram nas atividades da comunidade. Eles tentaram se adaptar à comunidade, usando suas habilidades de guerreiros, mas sempre provocavam destruição no seu caminho. Os invasores se pareciam muito com os habitantes locais e eram difíceis de serem detectados.
Devagar no início, mas aumentando rapidamente, o trabalho na comunidade chegou a um impasse. Cada vez mais desertores do exército se envolviam na tentativa de conseguir a sua parte nos saques. O processo prosseguia de cidade em cidade até que um grande clamor começou a se erguer em todo o interior – um grito de alarme. O governador da área tomou consciência do problema e enviou todos os combatentes que ele pode reunir, porém, agora, os desertores do exército eram muitos e altamente habilidosos. Além disso, eles não conseguiam distinguir os desertores dos habitantes locais.
Finalmente, o governador emitiu uma solicitação ao general do exército. (O general não tinha sido avisado do problema até esse momento.) O general imediatamente tentou chamar de volta os desertores, mas eles não o obedeciam mais. Ele chamou o governante do país e esse tentou convencê-los pela lógica, mas eles também não o escutaram. Os desertores somente continuavam a crescer em número e a destruir o interior. Um governante vizinho sugeriu que fosse colocada comida envenenada por todo o interior para tentar envenenar os renegados. Isso funcionou um pouco e alguns morreram, porém, também muitos dos habitantes locais.
O general e o governante pensaram e pensaram. Por fim, delinearam um plano. O general secretamente chamou seu serviço secreto especial e lhes deu um treinamento específico de como distinguir os habitantes locais dos desertores treinados para guerra. A eles foi ensinado como fazer um exame detalhado, pois existiam pequenas diferenças na constituição física. Os soldados eram mais fortes e mais ativos do que os habitantes locais. Também tinham uma expressão diferente nos olhos e os padrões de respiração deles era diferente.
O pessoal do serviço secreto especial foi instruído para colocar as roupas dos habitantes locais e se infiltrarem nas vilas e cidades, localizar os soldados desertores e injetar neles um soro especial (conhecido apenas pelo serviço secreto e o general) que os faria dormir.
O serviço secreto iria depois levar esses soldados adormecidos para um local de retreinamento no interior onde seriam reabilitados para o seu trabalho original. Aqueles que não pudessem ser reabilitados seriam banidos do país. Os guardas do serviço secreto especial foram treinados para proteger contra qualquer repetição futura de natureza similar.
Desse modo, a paz e a ordem foram restauradas no país fazendo com que os habitantes das vilas, cidades, metrópoles e da totalidade do país voltassem a ficar contentes de novo. O governante estava contente, o povo estava contente e o general e o exército estavam contentes.
Artigo publicado na revista Anchor Point em dezembro 1993 e republicado no volume 18 número 8.