Escrito por: James Lawleye Penny Tompkins
Aprendizagem é um processo altamente complexo sobre o qual nós sabemos muito pouco. Mas de uma coisa nós temos certeza: as pessoas aprendem de maneiras diferentes umas das outras. Como podemos compreender de que maneira os nossos alunos aprendem – somente ouvindo-os? Uma abordagem muito prática é prestar atenção nas metáforas usadas na linguagem deles.
O que é uma metáfora?
No livro inovador e de mente aberta "Metáforas da Vida Cotidiana", o linguista George Lakoff e o filósofo Mark Johnson dizem: "A essência da metáfora é a compreensão e a experiência de uma coisa em termos de outra".
Nós gostamos dessa definição por uma série de razões. Primeiro, ela reconhece que a metáfora captura a natureza essencial de uma experiência. Por exemplo, quando um aluno nosso descreve sua situação como: "É como se eu estivesse batendo a cabeça contra um muro de pedra", o sentido repetitivo, doloroso e frustrante da sua experiência ficou instantaneamente aparente. Em segundo lugar, a definição confirma que a metáfora é um processo ativo muito íntimo para nos conhecer, os outros e o mundo em nossa volta. Terceiro, a metáfora não precisa ficar limitada às expressões verbais. Para nós, a metáfora pode incluir qualquer expressão ou coisa que é simbólica para a pessoa, seja isto um comportamento não verbal, algo produzido pela própria pessoa, um item do ambiente ou uma representação imaginativa. Em outras palavras, qualquer coisa que a pessoa diz, vê, ouve, sente ou faz, bem como o que ela imagina, pode ser usada para produzir, compreender e raciocinar por meio da metáfora.
A metáfora não é uma incursão ocasional no mundo da linguagem figurativa, mas a base fundamental para adquirir conhecimento no dia a dia. Lakoff e Johnson declaram: "Em todos os aspectos da vida... nós definimos a nossa realidade em termos de metáforas e depois prosseguimos para agir na base da metáfora. Nós tiramos conclusões, definimos metas, fazemos compromissos e executamos os planos, tudo baseado em como nós estruturamos, em parte, a nossa experiência, consciente e inconscientemente, por meio da metáfora".
Andrew Ortony identificou três características das metáforas que respondem pela sua utilidade: vivacidade, solidez e expressibilidade. (nota 1) Em resumo, as metáforas carregam uma grande quantidade de informações abstratas e intangíveis num pacote conciso e memorável.
Além destas, existe uma quarta propriedade, e é uma das que mais impactam na maneira como os alunos aprendem. Como as metáforas descrevem uma experiência em termos de outra, elas especificam e restringem o nosso modo de pensar sobre a experiência original. Isso influencia o significado e a importância que nós vinculamos à experiência original, a maneira que ela se ajusta com as outras experiências e as ações que nós tomamos como resultado.
Linguagem Clara
Existe uma maneira muito simples de descobrir a metáfora que o aluno usa para aprender – pergunte para ele: "E quando você está aprendendo, o aprendizado se parece com o que?"
Qualquer que seja a reposta que o aluno lhe dê, podemos aprofundar perguntando: "E tem mais alguma coisa sobre este X? E que tipo de X é este X?" [Onde X é a parte metafórica ou simbólica da resposta à pergunta original.]
Essas perguntas da "linguagem clara" foram retiradas de um método de exploração das metáforas pessoais projetado por David Grove, e que estão explicadas em detalhes no nosso livro "Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling."
Nos anos 80, o psicoterapeuta David Grove percebeu que muitos dos seus clientes descreviam naturalmente os seus sintomas e efeitos na forma de metáforas. Ele descobriu que quando indagava sobre essas metáforas usando as mesmas palavras do cliente, começava a mudar a percepção que eles tinham dos seus problemas. Isso o conduziu a criar a Linguagem Clara, um método de fazer perguntas simples sobre as metáforas dos clientes que nem as contaminava e nem as distorcia.
Metáforas para o aprendizado
Usando as perguntas claras acima citadas, nós eliciamos uma metáfora para o aprendizado a partir de dez alunos adultos:
- Plantar flores – Uma semente é plantada na minha mente que é criada com água e sol confiando que ela irá germinar e crescer.
- Jogar cartas – Eu divido as coisas em quatro categorias e procuro as configurações dos naipes até que a lógica e o significado apareçam e eu saiba que carta jogar.
- Conta de poupança – Eu invisto tempo para acumular dados e informações até que haja o suficiente para me manter até a próxima ideia.
- Acender a lâmpada – Eu só tenho um insight ou um "ah há" depois que a luz se acende.
- Comer – Você precisa comer o básico, a carne e a batata, antes de ganhar a sobremesa saborosa.
- Ser detetive – Tudo gira em torno da descoberta dos fatos, procurar pistas e fazer as perguntas certas até esclarecer todo o mistério.
- Descascar a cebola – Eu tiro uma camada que revela a próxima camada a ser descascada. Em cada uma das vezes, algo me diz que estou chegando cada vez mais perto do âmago da questão.
- Na procura – Eu estou procurando algo ilusório e cada passo que eu dou me traz para mais perto do que eu preciso saber, mas eu nunca chego lá... é uma jornada contínua.
- Escultura – Você começa com o material bruto e vai retirando-o até obter uma forma agradável ao olho.
- Luta romana – Eu luto com as ideias até que sejam dominadas para que eu possa capturá-las.
Essas metáforas revelam a diversidade das representações simbólicas de como os alunos aprendem. Elas também sugerem alguns contrastes interessantes. Por exemplo, o aluno "conta de poupança" acumula conhecimento constantemente, enquanto que aparentemente nenhum aprendizado está acontecendo para o aluno "lâmpada" até a luz se acender. O aluno "jogador de cartas" provavelmente quer que sejam dadas todas as cartas para que possa começar a procurar os padrões, mas antecipar ao aluno "detetive" todas as informações relevantes irá provavelmente tirar o prazer da sua investigação. O aluno "na procura" precisa descobrir coisas novas em cada etapa da sua jornada, enquanto que o aluno "plantador de sementes" vai querer permanecer e tomar conta continuamente da semente da ideia.
Apesar de obtermos as metáforas para o aprendizado através das perguntas da Linguagem Clara, os alunos estão falando em metáforas o tempo todo. As pesquisas mostram que a conversa cotidiana faz uso de pelo menos quatro metáforas por minuto. (nota 2) Abaixo estão alguns exemplos de expressões metafóricas que estão "ocultas" ou "embutidas" na linguagem. Você consegue combinar os dez estudantes acima com os problemas do aprendizado que estão abaixo?
a. Eu me perdi no caminho.
b. Eu não consigo digerir toda essa informação.
c. No banco não tem o suficiente.
d. Isso me deixou exausto.
e. Justamente quando eu penso que entendi, fica tudo embaralhado.
f. Eu não consigo fazer nada com isso.
g. Isso me faz querer chorar.
h. Eu não tenho a mínima ideia.
i. Eu estou perambulando no escuro.
j. Nós não podemos aprender nessas condições.
É fácil achar os correspondentes, não é? (nota 3) Por quê? Por duas razões: primeiro, nós geralmente usamos experiências comuns e bem compreendidas como base metafórica para a informação complexa e abstrata; e segundo, existe uma consistência e uma lógica para as metáforas que cada um de nós usa.
Se você quiser ensinar de uma maneira que corresponda às metáforas de um grupo de alunos, vai precisar uma abordagem altamente flexível.
Usando metáforas múltiplas
Uma maneira de agradar a uma ampla gama de estilos de aprendizagem é ter certeza de que você usa uma variedade de metáforas. Essas devem ter tantas estruturas distintas quanto possível. Por exemplo, além de falar para a classe: "Vocês conseguem imaginar isso?" e deixando isto por conta deles, você também pode oferecer umas alternativas metafóricas, como:
Quem pode resolver isso?
Veja o que você faz com isso.
A que conclusão você chegou?
Quem acha que pode executar isso?
Quando você chegar a algum lugar me fale.
O que você consegue construir com isso?
Não tenha pressa e veja o que aparece.
Me diga quando descobrir a resposta.
Brinque com essas ideias e veja até aonde você chega.
Considere cuidadosamente essas informações até digerir os conceitos.
Passe algum tempo considerando isso e tudo vai se esclarecer.
Você precisa escavar abaixo da superfície para encontrar a essência da questão.
Para concluir...
As metáforas embutem e definem o intangível e o abstrato, mas esse processo inevitavelmente restringe as percepções e ações para aquelas que concordam com a lógica da metáfora. Portanto as metáforas são tanto descritivas como prescritivas. Quando os alunos se tornam conscientes das suas próprias metáforas para o aprendizado, eles podem reconhecer como elas os limitam ou os liberam. Dessa maneira eles podem aprender a partir do seu próprio processo de aprendizagem!
Também vale a pena saber as suas próprias metáforas preferidas porque elas têm uma grande influência na maneira que você ensina. Uma vez que você esteja familiarizado com as suas preferências, você pode começar a evoluir empregando novas metáforas. Para alguns alunos, as suas novas metáforas irão dizer a mesma coisa de uma maneira diferente -- mas outros vão precisar se encaixar numa categoria diferente no processamento mente-corpo. Além de ensinar o assunto em questão, você estará treinando os seus alunos para processar a informação por meio de uma variedade de metáforas. O resultado será uma maior capacidade de poder pensar com mais criativamente.
James Lawley e Penny Tompkins são Trainers de PNL Certificados e psicoterapeutas registrados na Grã Bretanha. Eles são os coautores de Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling.
Notas:
1. Andrew Ortony (ed.), Metaphor and Thought (Second edition), p. 622.
2. Susan R. Robinson, Birkbeck College, University of London, 11 November 2000.
3. A resposta dos pares: a-8, b-5, c-3, d-10, e-2, f-9, g-7, h-6, i-4, j-1.
Esse artigo foi publicado no SEAL Journal e está sob o título "Learning Metaphors" no site www.cleanlanguage.co.uk